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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

"Criação com Apego" salvando uma vida ~ por Elaine Patrícia

Essa foi a manhã seguinte, com meu filho vivo

Pensei muito em como introduzir o tema Criação com Apego no blog, a responsabilidade me parece (e é) muito grande. Fiz pelo menos três textos e nenhum me pareceu o ideal, apenas este: 

Deixarei de lado no momento a definição do nome para falar do momento que, naturalmente, descobri a criação com apego sem ao menos saber de sua existência. Ser mãe sempre foi meu sonho, e eu o realizei antes do que previa, fui mãe aos 21 anos. Lia horrores sobre parto, porque de alguma forma entendia que ser mãe era algo que se aprendia dia-a-dia, isso claro, entre o estágio e a faculdade. Decidi e fui muito apoiada pelo meu até então namorado (o maridão), seria parto normal, por "N" vantagens que já devem ter lido em outras postagens aqui mesmo, mas não de minha autoria. Mas voltando... com 42 semanas o dia chegou, a bolsa estourou. Vivaaa! Sentia um medo e alegria gigantescos. Corremos ao hospital, público, sabia que lá as possibilidades de uma cesária seria quase nula, pelo menos foi o que disseram no curso desse mesmo hospital. Eu tive uma cesária, prometo que contarei como em outra oportunidade. Como devem saber fiquei absurdamente drogada, no meu caso ainda mais do que imaginam, do pescoço pra baixo não sentia nada. Eis que após horas me levam ao quarto e me trazem meu príncipe, o bebê mais lindo que vi no mundo, o meu! Ao meu lado havia um bercinho, me foi recomendado que o bebê após as mamadas e arrotas devia ir para o berço. Como assim? Demorei longos 42 semanas para tê-lo em meus braços e ter que deixar ele ali? E se acontecesse algo? Engoli seco e concordei com a enfermeira, pelo menos foi o que ela pensou. Amamentei na maca, o fiz arrotar e ele dormiu, consequentemente eu também adormeci, com ele em meus braços, ali do meu lado. Lembro de não sei quanto tempo depois acordei sentindo a enfermeira querendo tirá-lo de meus braços, acordei como se jamais tivesse pego no sono a vida inteira. Falei que estava acordada, e ela insistia que como eu estava dopada devido a cesária poderia dormir, derrubar meu filho da maca, virar e matar o pequeno, e outras barbaridades que jamais se deve dizer a uma mãe, ainda mais nessas condições. Todas as palavras dela me revoltaram de tal forma que resolvi bater o pé, meu filho dormirá comigo na maca, tive ainda que me responsabilizar caso algo acontecesse a ele, e o fiz. Na noite desse mesmo dia aconteceu algo, que até hoje choro de lembrar, meu bebê mamou, arrotou e dormimos juntos. Não me lembro a que horas da madrugada acordo sentindo um levíssimo movimento nos meu braços, meu filho estava engasgado, não tossia, não emitia som algum, estava ficando roxinho, se quer daria tempo de gritar por socorro. Eu mesma o virei bati de leve, com a mão em concha de baixo ´para cima nas costa do meu filho, morrendo de dor pelos pontos, fraca devido a cesária. Ele golfou, e foi voltando a cor normal. Chorrei, chorrei como criança sabendo que se ele não estivesse na minha maca, ao meu lado, em meus braços eu jamais o sentiria se mexer sem ar e poderia perder o meu bem mais precioso. Quando conheci a criação com apego já praticava a cama compartilhada, o interessante é que a maioria dos pais se identifica com ela, na maioria das vezes exatamente por causa da cama compartilhada, e assim foi comigo. Espero poder contribuir com os princípios e benefícios desse modo natural de criar, porque apegar-se faz bem.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Plano de Parto. Você sabe o que é? por Adèle


"Para evitar imprevistos é melhor você fazer um Plano de Parto e conversar com seu médico sobre cada passo do trabalho de parto. Se você não tem convênio médico vá até a maternidade e se informe sobre todos os passos pelos quais passam as parturientes, desde a internação até a alta.

Fazer um Plano de Parto tem três funções muito importantes:

1) Evitar imprevistos de difícil solução

2) Levar você a conhecer e pensar sobre cada momento do seu parto, podendo fazer escolhas que se referem ao seu corpo e ao seu bebê

3) Deixar suas preferências bem claras para a equipe que vai te acompanhar

O Plano de Parto é tão importante que é a primeira de uma série recomendações da OMS para melhorar, no mundo todo, o nível do atendimento dado a parturientes e recém-nascidos.

O que pode constar do plano de parto?

Tudo, desde as primeiras contrações até os primeiros dias pós-parto. O plano de parto é uma lista sobre os acontecimentos possíveis em um parto e sobre os quais você pensou. Pode ser feito em forma de carta ao médico e a instituição como já é feito em alguns países, ou simplesmente ser uma reflexão sobre o que você aprendeu e deseja sobre seu parto. Não é uma lista de “mandamentos” para os profissionais muito menos um “alvará” para sua desobediência frente à equipe. É uma organização de idéias para facilitar o diálogo com o profissional que te acompanhará.

Em que maternidade ou Casa de Parto você quer ter o bebê? Você gostaria de ficar lá com um acompanhante? Gostaria de ter uma doula? Irá receber lavagem intestinal, raspagem dos pelos, soro com hormônio para acelerar as contrações, anestesia, ficar sem beber líquidos? O que a medicina baseada em evidência e a OMS (Organização Mundial de Saúde) tem a dizer sobre estes procedimentos que vemos serem utilizados como rotina? Gostaria de amamentar logo após o parto e garantir alojamento conjunto logo a seguir ou concorda em esperar por 6 horas ou mais até poder se reencontrar com o bebê? Em caso de cesárea, gostaria de ser “apagada” após a saída do bebê? Ou gostaria de segurá-lo com a ajuda do seu acompanhante após o parto? Quais procedimentos você aceita e quais preferia evitar?

Como fazer meu plano de parto?

Além de saber dos procedimentos de praxe do seu obstetra ou parteira e da maternidade, busque informações em livros e sites de confiança. Listas de discussão na internet e cursos de preparação para o parto podem ajudar bastante. Se puder, converse com ex-gestantes que tiveram parto no mesmo local, ou com o mesmo profissional. Aos poucos o que você quer e não quer no seu parto vai ficando mais claro e você pode ir conversando e negociando com seu médico o que é possível e o que não é.

Ficou com dúvidas, segue abaixo um link com um modelo de plano de parto. Basta você se informar e decidir o que você quer para o seu parto."

Fonte 2 rs

domingo, 4 de agosto de 2013

Porque eu choro por minha cesárea ~ por Ana Cristina Duarte


"Há 15 anos tive uma cesariana que eu não desejei. E por muitos anos eu dela me queixei. Felizmente só encontrei à minha frente pessoas que compreenderam minha frustração. Jamais fui julgada por isso, nem fui aconselhada a deixar esse assunto de lado. Nem todo mundo, no entanto, tem a mesma sorte. Recebo muitas mensagens de mulheres que choram escondidas por suas cirurgias, porque não podem mais chorar para seus companheiros, suas mães, suas amigas.

Há, na sociedade, a ideia de que não há porque chorar quando o resultado de uma cesariana é um bebê vivo e (pelo menos aparentemente) saudável. Se a mãe sobreviveu e o bebê também, só devemos comemorar, é o que pensa a nossa sociedade. A mulher que chora depois de uma cesariana em que todos saíram vivos, muitas vezes é julgada como egoísta, vaidosa, insensível, entre outras características negativas.

O objetivo dessa nota é explicar porque essas mulheres choram, e como elas conseguem, ao mesmo tempo, ser gratas pela presença de um filho saudável em suas vidas, e ao mesmo tempo estar tristes por suas cirurgias. O que eu posso adiantar aqui é que toda mulher que chora sua cesariana é feliz por ter um bebê. É possível perfeitamente separar as duas facetas da história: um parto horrível e o nascimento de uma criança maravilhosa. Só para exemplificar, imagine que você sofra um terrível acidente de carro e o homem que te ajude a sair das ferragens venha a ser, mais tarde, o seu companheiro. É possível ter um grande trauma do acidente e amar profundamente esse homem? É possível, inclusive, ser grata por esse traumático e inesquecível evento, por ele trazer essa pessoa à sua vida? Claro que sim!

Imagine o corredor que se preparou durante toda a vida para uma maratona, e no dia da prova mais importante de sua vida, a Volta de Paris, para a qual inclusive ele guardou dinheiro por muitos anos, ele sofre uma parada cardíaca e é milagrosamente salvo pela equipe de retaguarda. É possível que ele diga que foi uma experiência horrível, traumática, embora ele seja eternamente grato por ter sido salvo pela equipe de resgate? Claro que sim!

Portanto, esclarecendo, é possível ter uma grande mágoa pela cirurgia, tenha sido ela necessária ou não, e amar o fruto dela infinitamente. A outra questão é o significado dessa cirurgia na vida de muitas mulheres. Apesar de sermos campeões internacionais de cesarianas, e estarmos imersos numa cultura muito arraigada de cirurgias marcadas e "necessárias" para salvar bebês de seus perigosíssimos cordões (sendo irônica, claro), o fato é que muitas mulheres não querem passar por uma grande cirurgia para ter filhos.

Deixe-me explicar: imagine que você tenha um grave problema na garganta que te impeça de engolir. Imagine que então você tenha que passar a se alimentar por uma sonda gástrica, por onde o alimento é introduzido em seu estômago. Veja, é o mesmo alimento que você ia comer, mastigar e engolir, só que ele será liquefeito e injetado na sonda, para que você não precise engolir. Para somar, olha que bênção, você nunca mais correrá o risco de engasgar! Aliás, voltando à gratidão, suponhamos que a técnica tenha, inclusive, salvo a sua vida. Você pode até ser grato por ter sido salvo. Mas também é possível que você passe o resto da sua vida lamentando não poder mais mastigar, sentir o alimento descendo pelo esôfago, a sensação do alimento na boca, nas papilas gustativas, etc..

Ou se você não puder mais esvaziar sua bexiga naturalmente, passe por uma cirurgia que retire a bexiga e o resto do "equipamento", e você passa a usar uma bolsa acoplada à perna. Afinal que diferença faz na vida de alguém não poder ir ao banheiro? Não é até mesmo uma vantagem? Basta esvaziar a bolsa uma vez por dia em qualquer lugar. Não tem mais infecção urinária, ficar apertado para ir ao banheiro, ter que sair no meio do filme porque esqueceu de ir ao banheiro antes de começar a sessão. Acabaram os seus problemas urinários.

Se você for homem, imagine ter sua próstata retirada por causa de um câncer ou porque o médico descobriu um jeito de ganhar bastante dinheiro retirando próstatas saudáveis. Ainda que você tome bastante viagra para o resto da sua vida e possa ter uma vida sexual normal, você não acha que pode ser que a cirurgia te deixe revoltado para sempre?

A questão é que, para muitas mulheres, não poder dar à luz naturalmente é quase como um aleijamento, uma mutilação. A sensação de ter alguém que foi lá, abriu-a e retirou seu bebê é absolutamente frustrante. Não sentir a passagem do bebê por dentro do corpo pode ser, para essas mães, um débito para toda a vida. Pode ser um trauma, uma tristeza, uma frustração incurável. Ela não está dizendo que não é grata pela vida do filho. Ela está dizendo que a cirurgia não foi uma forma divertida e funcional de dar à luz.

Vamos somar a isso o fato de que a imensa maioria das mulheres operadas hoje, tanto no SUS quanto no serviço privado, não precisavam dessa cirurgia. Dos 15% recomendados pela OMS, já estamos em 52%. São quase um milhão de cesarianas desnecessárias no nosso país, por ano. É uma epidemia grotesca, da qual tantas mulheres são vítimas. Quando você encontrar uma mulher operada no SUS, tem mais de 50% de chances de ter sido uma cirurgia evitável. Quando você conversar com uma que teve sua cesariana no setor privado, tem quase 80% de chances dessa cirurgia ter sido desnecessária e feita por razões comerciais e corporativas.

Portanto, só o que eu peço, quando estiver ouvindo o desabafo dessa mulher operada, é que você esteja com o coração aberto para compreender sua dor. Entenda que a dor dela, física e emocional, não é frescura nem fricote. Aceite que essa dor e essa tristeza não tem nada a ver com a alegria e o prazer que o bebê representa em sua vida. Ela só quer que você a ouça, que a compreenda e não a julgue. Ela só quer a sua empatia. A única coisa que você precisa responder é: "Querida, eu te entendo. Eu entendo sua frustração. Eu sei que você desejava um parto." Não prolongue. Não comece com "Mas pense que ..., mas pelo menos ..., mas em compensação...". Apenas ouça e mostre sua compreensão. Um dia ela irá se curar e você não pode percorrer esse caminho por ela.

Obs: Nesse texto não incluí uma outra classe de frustração e trauma, que é a do parto vaginal violento, e que pode gerar problemas físicos e emocionais dramáticos. Fiz isso de propósito, pois o tema será tratado num texto exclusivo. Reconhecermos um drama não significa que não estamos reconhecendo todos os outros dramas do mundo, afinal de contas.


Obs2: Quando uma mulher fica triste por sua cesárea, ela não está, de forma alguma, julgando a sua cesárea ou as suas escolhas. Por favor, não se coloque na defensiva."

Ana Cristina Duarte

sábado, 3 de agosto de 2013

Meu bebê é grande, mas eu sou um mulherão! ~ por Ana Cristina Duarte


"Bebê grande não é indicação de cesariana. Quer dizer então que a natureza preparou um bebê dentro do útero de uma mãe que não tem como sair? Mais ou menos como um marceneiro montar um armário dentro da oficina que não tem como sair pela porta? Bom, o marceneiro burro pode até perder o armário, paciência. Mas a natureza não é burra, e não tem caché energético para bancar bebês que são feitos por 9 meses e depois não podem sair, matando a si mesmos e às suas mães.

Na natureza, nos últimos 100 mil anos, cada vez que uma mutação genética fazia um bebê ser gigantesco para sua mãe, o que acontecia era o óbito de ambos. Esses genes malucos de bebês gigantes jamais puderam se reproduzir e perpetuar em nossa espécie. O tamanho dos nossos bebês não é fruto do acaso, do sorteio. Ele foi moldado pela seleção natural ao lonto desse longo período. Curiosamente nos últimos 40 anos, que é aproximadamente a idade da indústria da cesárea no Brasil, começaram a pipocar os incontáveis casos de bebês que não podem nascer por serem enormes.

Vamos aos fatos:

1) Não há como saber o peso dos bebês no útero. A ultrassonografia é uma tecnologia absolutamente inapropriada para cálculo de peso. Aparelho de ultrassom transforma onda sonora em imagem, e a imagem é medida por um computador, que joga tudo numa tabela internacional e dá um peso estimado. Não é de se surpreender que o erro chegue a 20% e que albuns bebês nasçam com até 1 kg de diferença entre o estimado e o real.

2) A bacia das mulheres têm flexibilidade através de seus ligamentos, que é aumentada pela relaxina, um hormônio que tem níveis elevados durante a gestação. A bacia interna (que é por onde o bebê passa) não tem como ser medida com precisão. Tamanho de nádega materna não é tamanho de bacia. Uma mulher pode ter um bumbum bem grande (como essa que vos escreve) e uma bacia pequena internamente (não é o meu caso). Outra pode ser magérrima, tipo Gisele Bundchen com fome, e ter uma bacia interna muito grande.

3) Os ossos da cabeça do bebê são soldos (a famosa "moleira" é justamente um dos espaços entre esses ossos). Durante o trajeto do canal de parto, os ossos se sobrepõem, formando um cone. Quando o bebê nasce, sua cabeça tem quase o formato de um ovo. Em poucas horas esse cone se desfaz e a cabeça fica redonda. Por isso também, as medidas do crânio do bebê calculadas pelo ultrassonografista não servem para absolutamente nada. Só servem para diagnosticar possíveis patologias fetais e predizer problemas de saúde do recém nascido. Essas medidas podem até ser úteis a um neonatologista, mas nunca a um obstetra.

4) Existe a possibilidade do bebê adentrar a bacia pélvica de forma inadequada e não passar. É a chamada desproporção céfalo-pélvica (DCP). Esses são os bebês que poderiam morrer se não fosse pela cesariana. Porém o único modo de diagnosticar uma desproporção é aguardando a mulher entrar em trabalho de parto, aguardando toda a dilatação do colo do útero (total, ou praticamente total), aguardar algumas horas (por volta de quatro ou mais, se o bebê estiver bem), sem que ele desça pelo canal de parto. Ainda assim é importante se tentar pelo menos uma analgesia por algumas horas antes de se decidir por uma cesariana por DCP.

5) Já assisti desproporção em bebês de 2500g e já vi bebês de 4700g nascerem em partos muito rápidos. Em outras palavras, o peso não tem NADA A VER com passar ou não passar. Já vi mulher de 1,80m ter desproporção e mulher de 1,40m ter parto muito rápido e fácil. Em outras palavras, tamanho de mulher não tem NADA A VER com passar ou não passar. O tamanho do marido também não tem qualquer importância nessa equação.

6) A altura uterina não tem qualquer utilidade para se determinar se um bebê vai passar ou não, pois ela depende de muitos outros fatores que não o peso do bebê.

7) Bebês grandes não tem maiores chances de "rasgar" os tecidos da mulher durante seu nascimento. O risco de laceração ocorre principalmente pelas intervenções (ocitocina, Valsalva, litotomia, Kristeler) e pela velocidade da saída do bebê. Técnicas de preparação do períneo durante a gestação têm sido promissoras no sentido de evitar lacerações de períneo e devem ser empregadas não importa o tamanho estimado do bebê.

8) Distócia de ombros, quando o ombro fica preso depois do nascimento da cabeça do bebê, é um evento muito raro, que fica um pouco mais provável com o uso de manobras como o fórceps e kristeler.  Mais da metade dos raros casos de distócia acontece em bebês que não são considerados grandes. Seriam necessárias mais de 300 cirurgias cesarianas em gestações de bebês supostamente grandes, para evitar um único caso de distócia de ombros. Essas 300 cirurgias certamente fariam muito mais mal a essas 300 mães e 300 bebês do que as consequências em geral passageiras de uma distócia de ombros.

9) Tamanho de vagina não tem nada a ver com essa questão. Se a mulher tiver algum problema nesse sentido, pode até solicitar a possibilidade de uma analgesia para o final do parto, para não sentir a passagem do bebê, caso entre em pânico durante o período expulsivo. De toda forma, a vagina é composta por tecidos musculares, que são muito flexíveis. A DCP se refere aos ossos da pelve materna, e não aos tecidos moles.

10) Não existe bebê tão grande que pode "entalar". O ponto mais estreito da bacia é uma linha imaginária que passa pelas duas espinhas isquiaticas. Ou o bebê passa ou ele não passa por esse ponto. Se o bebê não passar pela linha, ele nasce por cima. Se passar, nasce por baixo. Não existe um "purgatório" na bacia, de onde a criança jamais poderá sair. Sempre dá para nascer, por baixo ou por cima.

Em resumo, eu considero prática de má fé qualquer indicação de cesariana baseada em medidas, seja de altura uterina, tamanho de cabeça, peso calculado pelo ultrassom, medida da bacia por raio X, tamanho do bumbum, número de calçado ou tamanho dos ombros do marido estivador."

Ana Cristina Duarte ~ obstetriz

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O que é um Parto Humanizado? ~ Por Ana Cristina Duarte


"Não verdade não há um consenso sobre o que é parto humanizado e há muito preconceito também, especialmente entre profissionais que se recusam a sair do modelo "eu faço partos há 20 anos, não é você quem vai me ensinar". Entre essa categoria mais engessada, a fala em geral é: "se eu não faço parto humanizado, eu faço o que? parto de bicho?". Em uma coisa eles têm razão, esse nome não diz nada! 

O que faz diferença na assistência humanizada verdadeira é a atitude de todos. Por isso, se o seu profissional prioriza o conjunto te preceitos enumeradas abaixo, ele é um profissional humanizado, dentro desse conceito de humanização. 

Vamos a eles! O Parto Humanizado é:

1) Respeito aos tempos da mãe e do bebê. Qualquer aceleração do processo, quer indução, aumento artificial das contrações ou agendamento de cesariana precisa de uma forte justificativa clínica. Não faz sentido marcar a cesariana porque a mãe está pesada, e entender isso como "protagonismo feminino". Existem várias possibilidades de ajuda para uma mãe cansada, e que não desrespeitam o tempo do bebê.

2) Respeito ao protagonismo feminino. É importante mudar o olhar e compreender que o parto é da mulher e que ela tem direito a escolhas e total liberdade. Esse é talvez o maior desafio dos profissionais e dos serviços. A cada vez que alguém se dirige à mãe e se diz o que ela deve fazer, já houve um desrespeito a esse protagonismo. Um exemplo básico, se a mãe chega na triagem e alguém diz: "por favor, mãezinha, a senhora vai ali naquele banheiro, tira toda a roupa e coloca essa camisolinha voltada para trás".. BANG! Matou o protagonismo! Essa talvez é a maior mudança de mentalidade necessária e a origem de todas as outras mudanças.

3) Compartilhamento de responsabilidades. O médico não proíbe, não aconselha, não manda. O médico ou a parteira ou qualquer outra pessoa da equipe mostra sempre as opções e a mulher escolhe o que ela quer para ela. Mesmo quando parece não haver opção, há opção. E já que não existem garantias mesmo, o melhor é ser claro, mostrar riscos e benefícios e permitir que a mulher sinta que está sendo co-responsável por suas escolhas. Por exemplo: "Sim, você pode tomar analgesia, mas existe um pequeno risco disso repercutir para o bebê, ou você pode tentar ficar mais um pouco na banheira, ficar lá com o seu marido e ver se consegue aguentar mais um pouquinho. Quem sabe possamos reavaliar daqui a 1 hora e já vai estar bem mais perto de nascer?"

4) Uso das melhores evidências. Depois de 30 anos de evidências contra o uso rotineiro de episiotomia, não cabe afirmar que a episiotomia protege a mulher. Hoje em dia existem claras evidências de que o melhor é deixar o parto acontecer naturalmente, sem qualquer tipo de intervenção, no ambiente mais simples possível, com equipes igualmente simplificadas.

5) Levando tudo isso em consideração, apesar de que uma ou outra mulher possa precisar de analgesia, ou de rompimento artificial da bolsa das águas, ou um pouquinho de ocitocina em algum momento, a imensa maioria das mulheres de baixo risco terá, dentro desses princípios todos, um parto:

- De início espontâneo, sem indução
- Sem precisar subir em cadeira de rodas ou macas até a sala de parto
- Sem precisar usar uniformes específicos
- Em um ambiente simples, sala agradável (chamadas de PPP), com mobília adequada, com banheira e chuveiro disponíveis, luz baixa, música a gosto e total privacidade
- Atendido por uma obstetriz, enfermeira obstetra e/ou médico
- Sem o uso de ocitocina durante todo o trabalho de parto
- Sem raspagem dos pelos pubianos e/ou a abjeta lavagem intestinal
- Com liberdade de alimentação e ingestão de líquidos
- Sem o uso de cardiotocografia contínua, tendo o coração do bebê avaliado intermitentemente com um sonar simples, a intervalos regulares de tempo
- Com apoio contínuo do(s) acompanhante(s) e de uma doula particular
- Com o uso de métodos não farmacológicos para dor
- Com o uso de analgesia se necessário, depois de informada dos riscos e benefícios
- Sem ruptura artificial da bolsa das águas
- Com absoluta liberdade de movimentos para a mãe durante todo o processo, inclusive durante o período expulsivo
- Encorajamento das posições verticalizadas
- Sem episiotomia, sem empurrar a barriga, sem dedos nervosos na vagina da mulher, sem prender a respiração para fazer força comprida, sem fórceps, sem vácuo-extrator para acelerar um processo em que mãe e bebê estão bem
- Sem limites arbitrários de tempo para o parto e para o período expulsivo, porque o bebê "ainda está alto", por exemplo
- Com o bebê sendo colocado imediatamente no colo da mãe com o cordão ainda ligado, mantido intacto pelo menos até parar de pulsar, e com amamentação a mais precoce possível
- Sem aspiração das vias aéreas do recém nascido, separação da mãe, colírio e identificação só após a primeira mamada, vitamina e vacina só depois de algumas horas e após tempo para o vínculo mãe-bebê
- Com o uso de alojamento conjunto desde a sala de parto até o final da estadia

6) O uso de uma intervenção (ou mais, se necessário) não tira o aspecto humanizado do parto. Desde que seja necessária no contexto e de que seja dada a escolha para a mãe, desde que seja, portanto, utilizada em caráter de exceção. E no final, até mesmo uma cesariana pode ser necessária, e ainda assim é perfeitamente possível ser calmo, falar baixo, respeitar mãe e bebê sem falar de outros assuntos, baixar a luz, aquecer o ambiente, e obedecer aos três últimos princípios, que ocorrem depois do nascimento.

Em suma, o parto humanizado é um parto o mais natural possível, com o menor número de intervenções que for possível para aquela dupla mãe-bebê e onde cada intervenção só seja utilizada quando os seus riscos forem menores do que o risco de não utilizá-la; onde os tempos, os interesses e a liberdade da mãe e do bebê sejam os principais motivadores de todos os envolvidos; e o melhor: tudo baseado em evidências científicas e nas recomendações da Organização Mundial da Saúde. "


Ana Cristina Duarte Obstetriz

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Deixe-nos PARIR!!!! Um texto da AC



Amiga parteira, amiga(o) médica(o): quando a gestante te ligar dizendo que está com medo, está cansada, está com dor no ciático, está muito inchada, descarta qualquer patologia (por telefone ou pessoalmente), o seu papel é de acalmá-la, trazer à realidade, lembrá-la do quão importante é o parto natural para ela e para o bebê, lembrá-la de que qualquer intervenção agora sem uma razão clínica, não é a melhor escolha para eles. Ela não está pedindo uma cesárea, nem internação, nem indução, nem intervenções. Ela quer ajuda! E essa ajuda pode ser uma massagem, acupuntura, conversar com a doula, passar em consulta com você para se acalmar, frequentar o grupo de apoio, escrever para o grupo virtual de mães, etc..
Querida(o)s Amiga(o)s profissionais de saúde: as mulheres querem ser cuidadas, só isso. E nem sempre abrir a barriga ou interromper a gravidez daquela mulher sem uma razão clínica é o melhor cuidado que se pode oferecer!
Se você não aguenta mais, procure seus colegas mais "radicais". Divida suas angústicas! ACD
5 Técnicas de Assistência ao Período Expulsivo (TAPE), para médicos, enfermeiros obstetras e obstetrizes (dados ainda não publicados):
1) Sentar sobre as próprias mãos até ficarem dormentes. Soltar as mãos e balançar no ar até a circulação voltar. Sentar novamente. Repetir até o nascimento da cabeça do bebê.
2) Tricot: aprenda pelo menos dois tipos de ponto, use um durante as contrações e o outro nos intervalos das contrações. Ao nascimento do bebê, verifique o tamanho do cachecol que você fez!
3) Pintura de mandalas: pinte com o máximo possível de cores, sem errar e sem sair da linha. Se sair, comece outra. Não pare antes de completar uma mandala inteira de pelo menos 20 cm de diâmetro, ou um bebê nascido, o que vier primeiro.
4) Apneia: durante a contração, prenda a respiração. Nos intervalos, respire profundamente com os olhos fechados. Conte os segundos com os dedos das mãos, para mantê-las ocupadas. Se sentir tontura, saia da sala por 30 minutos. Volte depois que se recuperar, e recomece.
5) Massagem: escolha outro membro da equipe e faça uma massagem completa com o óleo da doula, começando pelo couro cabeludo (sem óleo), depois nunca, ombros, braços e mãos, principalmente. Se você tem mais intimidade com o outro membro (e por favor, não precisa entrar em detalhes), pode continuar com a massagem até onde achar apropriado. Se necessário, solicite um recinto privativo para a enfermagem. Depois invertam. Parem quando o bebê estiver nascendo. Se você estiver sem roupa, pare quando estiver coroando e vista-se adequadamente.


Atenção amigo obstetra: bolsa rota prematura, sem infecção, não é para fazer uma cesárea. É para aguardar, fazer antibioticoterapia, corticoide, exames, repouso, internação, mas não é para fazer uma cesárea. Entenda, amigo, que nem tudo nesse mundo se resolve com cesárea. Tudo bem? Estamos combinados? Porque olha, quando você opera esse prematuro, ele pode morrer, viu? OU ter graves sequelas, porque ele é PRE-MATURO (AINDA NÃO ESTÁ MADURO). Posso desenhar, sem problemas.

Ana Cristina Duarte

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Parto sem Doula? ~ por Camila Goytacaz


"Tem gente que não sabe direito o que faz a doula. Quando a dúvida é de quem nunca pariu, tudo bem, só na hora P para entender a importância das acompanhantes. Mas fico triste quando escuto mulheres que já são mães perguntando sobre as doulas. Triste ver uma parida que não foi doulada. Sinto pelo que ela perdeu.

Um abraço acolhedor. Uma mão suave massageando as costas. Uma xícara de chá. Uma posição para ajudar o bebê a descer. Uma pessoa preparada: doulas vêm com o coração aberto e uma mochila cheia de truques. Bola para exercício, bolsa de água quente, óleos, rebozo, (um pano estrategicamente colocado nos quadris que faz maravilhas) e muito amor. As mais modernas trazem também ipods, máquina fotográfica e outros equipamentos para que o parto seja registrado, musicalizado, conectado e tudo mais que a gestante tiver vontade.

É a doula quem, gentilmente, prende o seu cabelo. Te ajuda a se vestir, a se enxugar, a se banhar, a gritar. Se você chorar, te acolhe. Se sorrir, ela ri. Se quiser companhia, vale por vinte, mas se precisar ficar sozinha, ela some, desaparece, como mágica. E sim, algumas são mesmo magas, fadas, bruxas, chame como quiser, doulas têm superpoderes.
Conheço algumas lindas. Uma é amiga bem próxima, que sai na pontinha dos pés durante a madrugada para não acordar os filhos. Sem hora para voltar, deixa tudo: seu curso, seu sono, seus problemas, a reforma da casa, a lista da escola. Só pensa na mulher que vai parir. Bela nos doulou em dois partos e muito, muito além dos partos. No parto da minha filha, na fase ativa, entre uma contração e outra, deitada com ela em minha cama, eu disse: não sei como alguém pode ser doula. Ela apenas sorriu. Disse pensando no profundo nível de entrega que a missão carrega. Chegar à casa de uma mulher e começar a cuidar dela, em um momento tão íntimo, segurando forte na mão, fazendo monitoramento, passando informação ao restante da equipe, não é para qualquer uma. É preciso vocação.
E quando chega o bebê o trabalho da doula vai chegando ao fim. Muitas choram, emocionadas. Ajudam a acolher o bebê e novamente, banhar e vestir a mãe, alimentar, fotografar. Sem as doulas, muitas mulheres viveriam seus partos sem matar a sede de água e de acolhimento. Doulas acompanham o casal neste momento único de sua jornada. Sim, elas atendem aos pais também, atuam, generosamente, para que eles encontrem espaço dentro do parto. 

E agora falam em proibir este trabalho. Proibir as doulas é como tirar as flores do jardim, é como apagar a chama das velas, é como ir à praia sem sol e ter frio sem cobertores. Parto sem doula é parto sem carinho, parto sem doula pode até, lamentavelmente, deixar de ser parto. E o que serão das mulheres sem parto? "