Pois é,
gente! Tratar as gestantes, as parturientes, por mãezinha ou gravidinha é uma
questão de neurolinguistica. Não que o termo esteja sendo usado de forma
intencional, não acho que seja isso, imagino que queremos ser carinhosos até…
mas as vezes as palavras tem poder!!!
Chamar minha
paciente, minha doulanda, é de certa forma tomar posse dela e da gestação
dela… Ela não é nossa, nós é que acompanhamos aquela pessoa, que é dona de si,
de seu corpo e de sua gestação.
Chamar de qualquer coisa “inha”, é
infatilizar. Isso é algo que vem sendo estudado pela antropologia, faz parte
das coisas que foram introduzidas na assistência o parto para tirar o parto da
mulher, diminuí-la e infantilizá-la, assim como a tricotomia. REPITO: Não
que isso seja feito de forma intencional de jeito nenhum, mas é algo que nos
foi passado e que perpetuamos, mas que faz mal!! Eu mesma, quando ensinada
no modelo tradicional, falava dessa mesma forma, chamava de maezinha, dizia que
tinha feito o parto de fulana, chamava de minha paciente… Mas quando
comecei a “enxergar a luz”, vi que além de mudar práticas, precisamos também
mudar a forma de falar, pois na verdade, a mudança das práticas em nós mesmos e
nos outros, passa pelo nosso discurso e como nos refirimos as coisas e também!
Outro exemplo disso que combato
diariamente é aquele vicio de dizer “eu fiz o parto de fulana”.
Hoje, exatamente como forma de ensinar
aos outros, eu faço a correção: você não faz parto de ninguém ao não ser o seu
(se for mulher), nós profissionais de saúde podemos fazer uma cesárea, aplicar
um fórceps, fazer uma indução. Mas quem faz o parto é a mulher!!!
Quando faço essas correções, alguns
reagem assim: Ah, é a mesma coisa, é isso mesmo. Mas não é!!! Porque até a
forma como você se refere a o que acontece, interfere no que acontece!
Então entendam, modificar esses termos
parece uma coisa secundária e usá-los parece ser inócuo, mas não é…
E quando alguém abordar isso, não se
ofenda! Garanto a vocês que essa pessoa, assim como eu e tantas outras
pessoas formadas dentro do modelo tradicional de assistência ao parto e que
despertaram para a humanização do nascimento, também luta para humanizar a
forma de falar e devolver o protagonismo à mulher!"
Leila Katz ~ Obstetra,
doutora em tocoginecologia pela UNICAMP, trabalha em Recife/PE no
Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP) coordenando
a UTI Obstétrica e o setor Aconchego (o setor aconhego é um setor no IMIP
de parto humanizado, que atende apenas baixo risco num sistema PPP atendido por
Enfermeiras Obstetras). É ativista e militante pela Humanização do Nascimento
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