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A doula Maíra Duarte ajuda a mãe
Alcione Agnes uma hora após o nascimento de Giulia
"Quando em
2001 o primeiro curso de formação de doulas teve lugar no Brasil, por
iniciativa de um médico obstetra, ninguém poderia imaginar a importância que
essas profissionais teriam num futuro tão próximo. Naquela época raras pessoas
sabiam o que era uma doula e sua função. Apesar de ainda hoje se fazer muita
confusão, muita gente já conhece as funções a elas atribuídas, sua importância
e seu papel no cenário da assistência ao parto.
Os dois
modelos de atuação são as doulas do setor privado, remuneradas por seu trabalho
de atendimento a clientes que as contratam, e as doulas voluntárias, que
trabalham no sistema público sem conhecer anteriormente as gestantes que vão
atender. Nos países do primeiro mundo, como Estados Unidos por exemplo, as
doulas já estão ativas na assistência há mais de 30 anos.
No Brasil
existem entre 2 mil e 4 mil doulas atuantes entre os dois setores, embora não
haja um número oficial ou um cadastro único. Neste 31 de janeiro, o Ministério
do Trabalho lançou a nova versão da Classificação Brasileira de Ocupações onde
figura, pela primeira vez, a ocupação de doula. Não existe uma
profissionalização oficial, tal qual ocorre em outras ocupações em que não há
execução de procedimentos de risco para a população. Tal qual fotógrafos e
cinegrafistas que adentram o recinto do parto, as doulas não executam
procedimentos médicos ou de enfermagem, não oferecendo, portanto, riscos à população.
As funções básicas da doula são: acompanhar, acalmar, oferecer suporte
emocional e físico, realizar massagem localizada, sugerir movimentos,
respirações, atitudes, enfim, uma miríade de ferramentas que ajudam a mulher a
atravessar o intenso processo que é dar à luz um bebê.
Uma
grande polêmica ocorreu essa semana quando dois grandes hospitais privados da
capital paulista proibiram a presença de doulas nos partos, alegando risco de
infecção, e recuaram após imensa repercussão na mídia e nas redes sociais. A
questão, no entanto, passa longe dos alegados riscos.
Estamos
falando de relações de poder, de interesses econômicos, de falta de
gerenciamento do setor privado.
Uma boa
parte dos hospitais privados do Brasil apresenta taxas de cesarianas superiores
a 90%. As cesarianas marcadas são o pilar de sustentação financeira das
maternidades privadas. Partos normais, apesar de mais seguros, causam prejuízo,
ocupam imprevisivelmente o leito por muito tempo, dão trabalho à enfermagem,
não têm hora para ocorrer e não podem ser controlados. Doulas, acompanhando
mulheres em trabalho de parto que querem muito um parto natural, perturbam a
ordem natural de um centro cirúrgico estruturado para cesarianas pré-agendadas.
Doulas pedem água, alimentos e explicações. Mulheres acompanhadas de doulas
desobedecem às regras da instituição, questionam, desafiam. Pais acompanhados
de doulas são mais protetores e questionadores. Doulas incomodam, partos
normais incomodam.
Enquanto
todos os setores do nosso país não assumirem que as mulheres estão sendo
roubadas em seus partos, tanto no setor privado, com suas cesarianas agendadas,
quanto no setor público, com seus partos altamente medicalizados e violentos,
não poderemos avançar de fato nas crises profissionais. O problema não são as
doulas e sua regulamentação. O problema não são as alegadas infecções
provocadas pela presença de mais um acompanhante. Estamos falando de um
processo de violência coletiva que vem se perpetuando há décadas em nosso país,
sob os olhos semicerrados do governo, da Agência Nacional de Saúde Suplementar,
do Ministério da Saúde, das secretarias.
Se nem a Lei do Acompanhante é obedecida em mais
da metade das instituições paulistas, o que se dirá de uma iniciativa que deve
ser tomada de livre e espontânea vontade pelas instituições para melhorar a
assistência às mulheres que desejam um parto suave, prazeroso, positivo,
acolhedor? Ainda temos um longo caminho a percorrer, e as doulas continuarão a
ter um papel fundamental nesse processo."Ana Cristina Duarte obstetriz pela USP e instrutora em capacitação para Doulas, é coordenadora do Grupo de Apoio a Maternidade Ativa (GAMA) e autora do Livro: Parto Normal ou Cesária? O que toda mulher deve saber ( e homem também)
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