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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Parir não exige coragem ~ por Elisama


“Quando digo que pari em casa, naturalmente, sem anestesia ou intervenções, escuto sempre a mesma frase: "Você é corajosa!" Pois bem, venho dizer a todos que não precisa de coragem para parir. Talvez seja necessária coragem para enfrentar uma cirurgia, desnecessariamente. Para parir, não. Pra parir a gente só precisa de entrega. De autoconhecimento. Esquecer as falácias e lendas sobre o parto. Só precisa confiar no corpo que soube gestar, no corpo que alimentou, cuidou e protegeu a cria por nove meses.

A dor do parto jamais me amedrontou. Acredito que, se respeitada em sua fisiologia, cada mulher terá o parto que precisa ter. Rápido ou longo. Tranquilo, orgasmático ou desesperador. A dor vem na medida da nossa necessidade. Eu senti muita dor. Quase 10 horas de bolsa rota. Mas aquela dor me transformou. O trabalho de parto me fez entrar em harmonia com uma mulher que a sociedade moderna me fez esconder. O excesso de tecnologia, as exigências exacerbadas, as verdades que nos vendem prontas em um mundo machista nos fazem perder o contato com o nosso feminino.Perdemos nossa intuição, nossa sensibilidade, nosso poder. Mas o parto me reconectou com a mulher primitiva que vivia em mim, me ligou aos meus instintos mais animais e íntimos. Senti meu corpo se abir. A medida que meu corpo se abria, minha feminilidade se aflorava. Ah, como doía. Dor de vida, dor de transformação, dor de amor. Nada de sofrimento. Dor e sofrimento não são sinônimos.Aquela dor me mostrava do que sou capaz. Me mostrava o quanto sou forte. Me dizia que minha cria estava chegando, vibrante, saudável. Nos colocava juntos em nossa primeira jornada como seres separados. 
Não precisei de coragem para viver o dia mais mágico de minha existência. Um dia suspenso no tempo e espaço. Um dia que não teve horários, gente, mundo exterior. Um dia apenas nosso. Olhei meu filho nos olhos assim que chegou a esse mundo. Segurei em meus braços, pus em meu seio. Senti o cheiro do vernix, a pulsação do cordão que nos ligava. Beijei os cabelos negros. Não trocaria esse momento por nada nesse mundo. Precisava estar lúcida para gravar aquele primeiro olhar em minha memória, para sempre. Precisava dos meus braços livres e o meu corpo desimpedido para envolvê-lo no nosso primeiro abraço. Precisava estar transbordando ocitocina para recebê-lo com cheiro de amor. Não precisa de coragem para viver algo tão rico e natural. 
Não há o que temer. A mulher parida encontra em si uma força sobrenatural. Descobre que a carapuça de sexo frágil não lhe cabe. Que a passividade não lhe define. Saímos de um parto, se natural e respeitoso, conscientes de todo o legado que nossas ancestrais nos deixaram. Descobrimos que cada pedaço de nosso corpo vibra, sente e se harmoniza com o universo. Descobrimos que somos lobas, leoas. Com minha cria em meu braços percebi que era capaz de ir muito além do que considerava serem meus limites. 
Coragem eu precisaria para receber meu filho em uma sala fria, cheia de gente estranha. Coragem eu precisaria para viver a chegada do meu novo ser de forma passiva, imobilizada em uma cama. Coragem eu precisaria para não recebê-lo nos braços. Coragem eu precisaria para violentar meu corpo com cortes profundos, desnecessariamente. Coragem eu precisaria para me deixar anestesiar. Coragem eu precisaria para permitir que arrancassem meu filho de mim. Coragem eu precisaria para perder toda a magia que vivi. Pra parir precisei apenas de respeito e amor.”

Dona do texto Elisama do blog Maternas ~ recomendo!!!!

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