"A nossa sociedade custa muito a
reconhecer que os bebês precisam de colo, contato, afeto; que precisam da mãe.
É preferível qualquer outra explicação: a imaturidade do intestino, o sistema
nervoso... Prefere-se pensar que o bebê está doente, que precisa de remédios.
Há algumas décadas, as farmácias espanholas vendiam medicamentos para cólicas
que continham barbitúricos (se fazia efeito, claro, o bebê caía duro). Outros preferem as ervas e chás, os
remédios homeopáticos, as massagens. Todos os tratamentos de que tenho notícia
têm algo em comum: tem de tocar no bebê para dá-lo. O bebê está no berço
chorando; a mãe o pega no colo, dá camomila e o bebê se cala. Teria se acalmado
mesmo sem camomila, com o peito ou somente com o colo. Se, ao contrário,
inventassem um aparelho eletrônico para administrar camomila, aticado
pelo som do choro do bebê, uma microcâmera que filmasse o berço, um administrador
que identificasse a boca aberta e controlasse uma seringa que lançasse um jato
de camomila direto na boca... Acredita que o bebê se acalmaria nesse modo? Não
é a camomila, não é o remédio honeopático! É o colo da mãe que cura a cólica.”
Não existe nenhuma doença mental causada por
excesso de colo, de carinho, de afagos... Não há ninguém na prisão, ou no
hospício , porque recebeu colo demais, ou porque cantaram canções de ninar
demais para eles. Por outro lado, há sim, pessoas na prisão ou no hosício
porque não tiveram pais, ou porque foram maltratados ou desprezados
pelos pais. E, contudo, a prevenção dessa doença mental imaginária, o estrago
infantil crônico, parece ser a maior preocupação de nossa
sociedade. E se não, amiga leitora, relembre e compare:
quantas pessoas, desde qeu você ficou grávida, avidaram da importância de
colocar protetores de tomada, em guardar em lugares seguros produtos tóxicos,
de usar uma cadeirinha de segurança no carro ou de vacinar seu filho contra
tétano Quantas pessoas por outro lado avisaram para você não dar
muito colo, não colocar pra durmir na sua cama, não acostumar mal o
bebê.”
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