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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Melhor dia para o parto e o pior dia para o parto. Existe isso? ~ por Gabriel Moro

Ilustração Ana Cunha

"Mães e médicos evitam partos em feriados, ignorando a importância de esperar que o bebê defina o momento certo de vir ao mundo. Entenda como as formas de nascimento interferem na saúde da mãe e do bebê.

Um estudo feito na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, por Alexandre Chiavegatto Filho, hoje pós doutorando na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, mostrou que ao analisar quase 2 milhões de nascimentos na capital paulista na última década, um dos dias prediletos para parto seria o Dia Internacional da Mulher, 8 de março. Já Natal e Ano-Novo são os mais rejeitados, assim como Finados, em 2 de novembro. Essas datas renegadas registram média de 360 partos cada uma, ante os cerca de 529 dos outros dias do ano. O pesquisador vê duas razões por trás dessa tendência: os pais não querem o aniversário do novo membro relacionado a uma ocasião negativa (caso do Dia dos Mortos) e têm certa resistência a passar feriados inteiros no hospital.

A palavra final é do bebê 
A ideia de que a conveniência interfere na decisão de agendar o final da gravidez ganha força ao se constatar que, entre 2001 e 2010, houve queda de 10,2% no número de mulheres que dão à luz aos domingos - dias considerados de folga. “As cesáreas permitem essas manipulações na data”, observa Alexandre Chiavegatto. “Só que, em troca da comodidade para a família, a criança pode nascer prematura”, alerta.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o trabalho de parto de baixo risco é feito entre 37 e 42 semanas de gestação. Mas isso não quer dizer que toda criança esteja preparada para deixar o ventre materno antes dos últimos dias desse período mais seguro. “Cada uma evolui em um ritmo”, lembra Julio Elito Junior, professor do Departamento de Obstetrícia da Universidade Federal de São Paulo. O médico explica que os pulmões, por exemplo, completam o desenvolvimento nos últimos dias de gestação - aguardá-los é vital para evitar desconforto respiratório. “O momento certo é decidido pelo bebê. Quando seu corpo inteiro estiver maduro, ele dará o aviso de que está pronto para sair”, resume o obstetra.

A recomendação da própria OMS é que a cesárea não ultrapasse 15% do total de partos. “Afinal, essa é uma operação de grande porte, na qual são abertas sete camadas do abdômen da mulher”, pondera João Steibel, representante da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Ele ressalta ainda que, embora não seja alta a probabilidade de infecção, se isso ocorre, ela costuma ser mais grave quando há cirurgia do que no processo natural. “O procedimento cirúrgico é um ótimo recurso. Mas é preciso ter uma causa justa, como o surgimento de algum risco à saúde do bebê ou da mãe”, completa.

No Brasil, na contramão do que preconiza a OMS, a taxa de cesáreas chega a 52% dos casos. “A situação é ainda mais alarmante nos hospitais particulares, onde esse índice oscila entre 80 e 90%”, afirma Maria do Carmo Leal, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fiocruz. A discrepância seria explicada pelo fato de os especialistas da rede privada serem pagos por ato médico. Ou seja: quanto maior o número de partos realizados, maior a remuneração. 
Curiosamente, um estudo com gestantes do estado do Rio de Janeiro, sob responsabilidade de Maria do Carmo, mostra que, no início da gravidez, 70% das mulheres diziam preferir ter o filho sem a necessidade de cirurgia, porém 90% acabaram se submetendo a ela. “Medo das dores e desinformação por parte das mães existe, mas não podemos ignorar a má qualificação de alguns profissionais de saúde”, critica a autora.

O fenômeno inquieta pesquisadores de diversas áreas, como Sonia Hotimsky, professora de antropologia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Ela acompanhou a formação de obstetras em duas grandes escolas da capital paulista e chegou à conclusão de que os alunos são incentivados a fazer a cesárea e, por falta de prática, muitas vezes saem da faculdade incapazes de realizar o desfecho da gravidez sem intervenções desnecessárias. Em sua tese de doutorado, Sonia argumenta que alguns professores ignoram evidências científicas de que, em boa parte dos casos, o parto normal é a opção mais indicada. “Para piorar, as decisões sobre condutas não são compartilhadas com as pacientes. Elas frequentemente nem são consultadas sobre o que será feito”, lamenta.

“Dar à luz é uma experiência única e individualizada”, reforça Daphne Rattner, professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília e presidente da organização Rede pela Humanização do Parto e Nascimento. “Para as mães, chegar informada ao hospital é uma forma de pressionar por mudanças”, ela defende. Tomara."



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