"ESCOLHA SUA EQUIPE!
Ao longo de alguns anos trabalhando com
gestantes e partos, aprendi que no mundo dos nascimentos é assim:
Existe o Obstetra Cesarista 171 Aquele que engana deliberadamente as pacientes
com indicações estapafúrdias de cesariana. Esse profissional marca cesáreas
eletivas com 40 semanas ou menos porque “não pode correr riscos”. Possui “o dia de operar” (toda segunda feira, por exemplo, que é
pro pai ter os 5 dias da licença paternidade emendando com o final de semana) e
adoram frases de impacto com nuances de terror psicológico como: “o meu
objetivo é te entregar um bebê saudável”. Ele diz que faz parto normal, mas
gasta metade da consulta para te convencer que o parto é um evento muito
arriscado e o corpo humano é uma bomba prestes a explodir. Ele adora contar
casos escabrosos de partos normais, mas omite sua estatística pessoal de
intercorrências derivadas de uma cirurgia desnecessária de grande porte (e a
quantidade de bebês internados na UTIn que nasceram antes de estarem preparados).
As pacientes juram que ele também faz parto normal, porque ouviram dizer que a
vizinha da prima chegou com o bebê coroando no hospital e ele não empurrou de
volta pra fazer a cesárea. Ou então, sabem que com ele só rolam cesáreas, mas
pensa que com ela (paciente de muitos anos) será diferente. Infelizmente, a
indicação da desnecesárea provavelmente vai acontecer quando a paciente está
com a gestação avançada demais para ter coragem de trocar de obstetra.
Existe o Obstetra assumidamente cesarista
Aquele que fala na lata que não faz parto normal
(seja por que não acredita, não gosta ou não ganha o suficiente pra isso) e
manda você procurar outro médico caso insista na idéia de "parir como
índia".
Existe o Obstetra desatualizado
Aquele que se formou há 2 ou 3 décadas e até hoje
não descobriu que o cordão umbilical não é assassino e que episiotomia não
protege o períneo coisa nenhuma. Esse coitado acredita de verdade que está
fazendo o melhor para a paciente. Ah, eu falei que ele se formou há 3 décadas?
Não, existem muitos recém formados nessa categoria também, que em vez de terem
o site da Biblioteca Cochrane nos seus favoritos ainda estão se baseando no bom
(?) e velho Rezendão pra basear suas práticas.
Existe o Obstetra bem intencionado
Aquele que até sabe que parto normal é melhor pra
mulher e pro bebê, que até "faz" alguns partos normais (não passa de
50% da sua estatística), mas que na prática deixa muito a desejar para mulheres
e casais mais empoderados e exigentes. É aquele que fala: “SE estiver tudo bem
podemos TENTAR um parto normal” (como se estar tudo bem fosse uma exceção, e
não a regra – frase muito comum para os médicos das categorias anteriores
também).
Existe o Obstetra "Tipo Humanizado"
Aquele que você podia jurar que é humanizado e
altamente radical porque topa alguns parto de cócoras, com doula, às vezes até
na água, mas que ainda escorrega em muitos preceitos da humanização, sobretudo
no protagonismo da mulher e na Medicina Baseada em Evidências. Por exemplo: não
deixa passar de 41 semanas mesmo estando tudo bem e sendo esta a vontade da
gestante, interna com poucas horas de bolsa rota, usa muito mais ocitocina
sintética ou faz muito mais episiotomias do que deveria, adora fazer um
descolamento de membranas ou colocar um “comprimidinho” na vagina para induzir
o parto, faz toques excessivos e desnecessários durante a gravidez e o trabalho
de parto, manda a mulher prender a respiração e fazer força compriiiiiida, pede
um monte de USG desnecessária no final da gestação, diz que a bacia da mulher
pode não ser tão boa ou que o bebê está grande demais, etc e tal.
*** Existem os médicos que estão na transição entre
a categoria anterior e a próxima ***
Existe os Obstetras Humanizados pra valer
Aqueles que realmente acreditam, gostam e bancam o
que estão fazendo, estão atualizadíssimos com as evidências científicas mais
recentes (e por isso mesmo incentivam que a mulher tenha uma doula), permitem
que as gestantes escolham qualquer posição que se sintam confortáveis para parir
(nem que pra isso eles tenham que se sentar ou deitar no chão pra pegar o bebê,
ou se molhem todos num parto na água) e respeitam o local de parto escolhido
pela gestante com gravidez de baixo risco (seja em casa, no hospital ou numa
casa de parto). Em geral, esses raros e preciosos profissionais não aceitam
fazer cesariana eletiva sem indicação (o que significa que suas taxas de parto
normal estão por volta de 80 a 85%), peitando a resistência dos hospitais e o
deboche dos colegas médicos, pois seu compromisso é com a mulher, e não com o
sistema. Eles informam o casal sobre todos os procedimentos realizados e estão
dispostos a extrapolar alguns limites dentro do pressuposto de responsabilidade
compartilhada e respeito às escolhas da gestante. Confiam e sabem que a
natureza é sábia, que a mulher é poderosa e que o médico só deveria intervir
quando necessário. Ou seja, eles possuem a humildade de simplesmente não fazer
nada a maior parte do tempo, além de aguardar pacientemente. Para esses, toda a
minha admiração e gratidão!
Nesse universo do parto, também existem DOULAS e
doulas, PARTEIRAS e parteiras (falo das parteiras formadas e urbanas),
PEDIATRAS e pediatras, sem esquecer das parteiras tradicionais (que cuidam de
uma parcela específica e significativa da população) e de uma nova categoria
que está surgindo agora, que são as parteiras “tipo tradicionais” (!!!). Mas
esse é assunto para uma próxima conversa (em breve!)."
Érica de Paula acupunturista,
doula, educadora perinatal e co-autora do documentário "O Renascimento do Parto"
Fonte: "Moças: teu GO é cesarista fan page no face book
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